Esta vara submetida à tensão se curvava e rolava sobre seu eixo para o lado direto num angulo aproximado de 60° em relação à linha da água.
Era uma situação no mínimo incomoda, pois outra vara de carbono da marca Y usada nas mesmas condições ficava estável, ao se curvar para a frente. Não girava sobre seu eixo, mantendo os passadores e molinete alinhados e apontando para a frente.
Percebi que a vara X sempre que se curvava respondendo a um esforço, tinha uma tendência natural à torção. Evidentemente a torção deveria estar ocorrendo não só quando se curvava para a frente, mas também quando se curvava para trás, durante o arremesso.
Um determinado dia em uma pescaria pesada, usando a mesma vara X mas desta vez com carretilha, tive oportunidade de lutar com um peixe de respeito e pude sentir o desconforto de se usar uma vara com tendência à torção. A cada puxada violenta o terceiro estágio se torcia e sentia o blank como querendo girar na minha mão. Essa vara por ser muito forte tem resistido às torções, mas sei que está ocorrendo uma fadiga no material que logo cobrará seu preço.....
Tenho como outro exemplo, uma vara de carbono mais fraca, leve e flexível da marca Z que apresentava um grave problema de torção, mas continuei a usá-la por um bom tempo aceitando-a como foi concebida.....
Ela acabou se quebrando num arremesso mais forçado mas dentro do seu casting médio.
A quebra ocorreu logo após o encaixe do terceiro estágio (haste mais fina de uma vara de três partes).
Depois de analisar a situação, conclui que a vara se quebrou devido a fadiga causada pela torção. Micro rachaduras começam a ocorrer na resina epóxi que cimenta as fibras de carbono, com o tempo elas se propagam enfraquecendo a região afetada.
Na foto abaixo, se observa a fratura da vara Z. Notem que a fratura não ocorreu em angulo de 90° e sim de forma caótica e longitudinal, fragmentando toda a região. Ao meu ver uma típica quebra por torção.
Estou longe de querer escrever um tratado sobre quebra de varas, mesmo porque é um assunto complexo. Cada vara tem seu histórico e pequenos acidentes sofridos pela vara no dia a dia, podem uma vez somados favorecer a quebra "inexplicável" da vara em um arremesso leve.
Meu objetivo ao escrever este tópico, é tão somente mostrar porque algumas varas tubulares torcem e quais as consequências. Estamos nos referindo exclusivamente às varas concebidas pelo processo de enrolamento da manta de carbono pré cortada e impregnada com resina em um mandril metálico no tamanho e formato final de cada parte ou estágio da vara.
Se a vara X de marca Y apresenta torções, não significa na prática que todas as varas X, desta marca estão com o problema. Mas o controle de qualidade das varas feitas em série, aos montões, podem eventualmente estar negligenciando a questão da chamada espinha da vara e sua relação com o posicionamento dos passadores e por conseguinte do próprio reel seat.
ESPINHA DA VARA
Toda vara fabricada pelo processo de enrolamento da manta impregnada com resina em um mandril metálico terá um lado mais grosso e portanto mais duro, conseqüência da inevitável sobreposição da camada de manta no final do enrolamento. Este lado é conhecido como espinha da vara.
No entanto, nem sempre a espinha tem uma dimensão uniformemente distribuída ao longo do comprimento de cada segmento da vara. Dependendo do corte da manta, a sobreposição poderá ser maior ou menor em certas partes da vara.
Acumulo de resina durante o processo, escorrimento interno, etc ... em menor grau podem influenciar na dureza localizada da vara, portanto para se fabricar uma vara equilibrada, o ideal seria falarmos de ESPINHA EFETIVA, que seria a média de todas as forças que estão contribuindo para que um lado da vara fique mais duro.
A espinha efetiva pode ser encontrada através de vários métodos.
Podemos usar equipamentos chamados de SPINE FINDERS, que são usados inclusive nas montagens de tacos de carbono para golf.
Nos spine finders de tubo, basta colocar a parte mais grossa da haste dentro do tubo e aplicar uma carga forçando a ponteira para baixo, simulando uma puxada. A espinha da vara automaticamente pulará para cima, fazendo a haste girar no sentido inverso à carga aplicada.
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Podemos usar um método mais simples e igualmente eficaz para se achar a espinha efetiva da vara, baseado na rolagem da haste sobre uma superfície lisa.
Descrevo abaixo o procedimento.
Em varas de Surf Casting, este método é aplicável para se determinar a espinha principalmente do terceiro estágio da vara ( tubular mais fino e flexível ) e eventualmente do segundo estágio, desde que o tubular da mesma tenha suficiente flexibilidade. Em hastes muito rígidas, a coisa se complica .....
Os equipamentos chamados de Spine Finders podem ajudar nesta tarefa.
O vídeo abaixo mostra um Spine Finder em ação e embora se refira à espinha da haste de carbono de tacos de golfe, por analogia pode ser aplicado perfeitamente aos blanks das varas tubulares de pesca, que também são construídas com mantas de carbono e resina moldadas em mandril.
Para se evitar que a vara torça quando submetida à uma força, recomendamos que os passadores sejam alinhados tendo por base as explicações abaixo.
Nos molinetes, os passadores são instalados no lado inverso da espinha e nas carretilhas os passadores são instalados sobre a espinha.
Na prática, respeitadas estas configurações, os arremessos e recolhimentos com molinetes e carretilhas acabam usando sempre o lado certo da vara. Em outras palavras carretilhas e molinetes usariam o lado mais duro da vara para o arremesso e o lado mais flexível para o recolhimento e luta com o peixe.
Existem algumas montagens especiais, na qual os passadores são instalados com um determinado ângulo em relação ao eixo da espinha da vara. Algumas teorias afirmam que este procedimento favorece certos tipos específicos de arremesso ..... eu não gostaria de entrar no mérito da questão, mesmo porque não tenho conhecimento para tanto!
Prefiro ficar dentro do contexto apresentado.
Equilíbrio e balanceamento de uma vara de alto desempenho.
Uma vara bem equilibrada e balanceada, não torce e portanto não bamboleia no estágio final do arremesso. Depois do disparo, quando a vara já liberou a energia acumulada, ela deve voltar à sua posição de descanso horizontal após um ligeiro trabalho para cima e para baixo dentro do eixo 0 - 180°.
Quanto mais rápida for a vara, mais rápido será o retorno à posição original.
Quanto mais lenta a ação da vara, mais fácil será a observação do comportamento desequilibrado da vara cuja espinha não tenha sido considerada na montagem.
Abaixo procuramos demonstrar isso através do diagrama:
Uma vara com o movimento de bamboleio, conforme explicado e mostrado na foto superior tem grandes chances de causar um enrosco na linha do arranque com a ponteira e com os passadores perto da ponteira.
O resultado pode ser a ruptura da haste. Com arranques de multifilamento, não são raros os casos da haste ser decepada.
Os tacos de golfe, são feitos de carbono e muita atenção tem sido dada ao equilíbrio.
Os torneios de golfe são milionários e portanto muita tecnologia tem sido aplicada na construção das hastes. Se fala e se estuda o assunto da espinha de maneira séria.
Gostaria de mostrar alguns vídeos que tratam do assunto do equilíbrio, mostrando a movimentação das hastes de carbono dos tacos de golfe em várias situações.
Os conceitos destes vídeos podem e devem ser aplicados às varas de pesca.
http://www.youtube.com/watch?v=oncXSFLR5RE&feature=player_detailpage#t=0s
http://www.youtube.com/watch?v=oLFnLT0dZcg&feature=player_detailpage
http://www.youtube.com/watch?v=aNvi1kdo4Wg&feature=player_detailpage
Em varas de pesca infelizmente, nem sempre estes conceitos são aplicados.
Pescadores mais técnicos e observadores, que procuram tirar o melhor proveito de seu equipamento com certeza já vivenciaram o desprazer de usarem uma vara desequilibrada. Outros mais preocupados com a pesca em si e menos observadores, provavelmente nunca se aperceberam de tais fatos.
Espero que estas informações sejam úteis não só para aqueles que precisam reformar ou dar um up em uma vara de pesca, mas também que sirvam de orientação na escolha e compra de uma nova vara de pesca. Testes simples podem ser feitos na loja, para se verificar o equilíbrio e o balanceamento de nossas futuras aquisições.
Autor: glbarth - pesca de praia brasil
De grande valia este artigo do amigo Barth, ja me ajudou em muitas ocasiões.
ResponderExcluirSamendoara
Prazer em vê-lo por aqui Samendoara. realmente é uma excelente matéria de nosso amigo Barth. Abraços!
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